Sentir-se só. De natureza humana tanto quanto fome e sede. Horas difíceis, dias difíceis, tempos difíceis, que forçam tal natureza à uma escala quântica em que nem um astro suportaria explodir em tamanha magnitude dentro de si. Sufoco invisível aos olhos alheios, que declamam a promessa da efemeridade nunca cumprida. Enquanto a matéria de pé esconder a alma definhada, coração algum será ferido pela empatia aos enfermos da mente.
Vazios. Ou cheios deles. Dor, desamparo e medo preenchem tantos espaços que lhe sobem à boca e calam o grito. Vozes que julgam, ferem, lhe amarram a corda aos pés e puxam como quem tenta arrancar o fruto mais suculento da macieira por puro prazer de devorá-lo fresco. Devoram-te inocentemente, debulhando e descartando suas sementes para que te impeças de florescer outra vez.
Como num ato de refúgio, te desconectas do teu corpo neste plano e desejas experienciar outro que não este que carregas arduamente nas costas. Ouves o balanço das águas, o barulho de cascatas intensas, violentas. Ah, como querias estar no paraíso! Mas olhas para si aos pés do abismo em prantos que caem e nunca alcançam o chão.
- Julles, 2020
Fotografia digital com edição analógica + texto.