Desde então, abri protocolos de conversa comigo mesma, mergulhando em busca de sedimentos ainda não fissurados, encontro na “verdade do sexo” uma inquietude: quais as identidades que nunca assumi. Quem seria Tamara? Apenas uma formalidade ao preencher o nome completo? De que maneira a ficção do gênero que me foi atribuído, construiu verdades tão sólidas sobre um “ser mulher” de acordo com anatomia do meu corpo? Que possibilidades desse corpo são encerradas em estratégias biopolíticas de controle e produção? Que aspectos da minha identidade, dos meus afetos, crenças e desejo foram coagidos pelo regime das práticas Naturais? E mais além, como atravessar os limites do corpo que me envelopa e se desdobra em mim?
Este ensaio foi fotografado com película 35 mm colorida e adulterada. Um procedimento que inverte a camada de exposição à luz. Normalmente um filme analógico colorido possui três camadas sensíveis a luz, sendo a última a vermelha do sistema de cores RGB. Quando se adultera a sequência, o vermelho funciona como um filtro que concede tons que variam de intensidade entre laranja e rosa a depender da quantidade de luz. No caso deste ensaio, utilizei um cenário verde para obter como resposta de revelação o azul e rosa da imagem, evocando os debates de gênero em questão.
Sedimento das certezas, 2018. Capturado em película 35mm, impresso em fine art nas dimensões 30x45 cm moldura perfil de madeira laminada natural e vidro incolor. Exposto na Galeria Capibaribe [Recife, PE] em Tramações: Cultura Visual, Gênero e Sexualidades [2ª edição].