A EXPOSIÇÃO:
A série de instalações "Não Visite a Exposição" é uma reflexão cuidadosa sobre a Exposição Colonial do Porto de 1934, que, por sua vez, foi influenciada pela Exposição de Paris em 1931. Inspirado pelo movimento surrealista liderado por Breton, que, em 1931, em reação à abertura da Exposição Colonial Internacional de Vincennes, denunciou a política imperialista da França com a exposição "Ne visitez pas l’exposition coloniale", Oscar Malta extrai sua narrativa a partir de uma extensa investigação nos arquivos imagéticos da exposição colonial portuense de 1934. Em sua investigação performativa, destaca-se a interconexão significativa entre o manuseio de "arquivos" e a resistência aos "memoricídios". Inspirado pelo pensamento insular de Édouard Glissant e sua "Poética da Relação", o trabalho de Oscar Malta enfatiza o direito à opacidade como uma ferramenta essencial para preservar a diversidade de perspectivas e vozes. Estes conceitos revelam-se de maneira impactante na prática artística de Malta. Sua abordagem ao arquivo fotográfico de Domingos Alvão, realizado durante a Exposição Colonial do Porto em 1934, transcende a mera preservação de documentos, transformando-se em um ato performático que desafia narrativas hegemônicas, confronta o apagamento histórico e promove uma reflexão profunda sobre a complexidade das relações entre arquivivos e memoricídios.
O TRABALHO:
A obra de Malta, é meticulosamente construída como um filme instalado na "vidraça" do Lote 67. Uma experiência multifacetada que questiona não apenas a exposição em si, mas também o próprio espaço expositivo. O artista desafia o espectador a questionar, refletir e imergir nas camadas complexas dessa narrativa, recriando e reimaginando a história através de seu olhar singular. Oscar Malta, em sua prática artística, sustenta uma perspectiva provocativa ao rejeitar a ideia de pós-colonialidade, defendendo, em seu lugar, a existência de um "continuum colonial". Esta abordagem reflexiva transcende o período histórico convencionalmente definido como pós-colonial, evidenciando que as relações de poder e influência colonial persistem de maneiras sutis e muitas vezes imperceptíveis nos dias atuais. Malta aponta para exemplos contemporâneos, como a França ainda emitindo moeda para países africanos ou Portugal mantendo territórios como Madeira e Açores, inspirados nos princípios do Common Wealth. Ao desafiar a narrativa de um pós-colonialismo supostamente inventado, Malta convida a uma reflexão crítica sobre as complexidades persistentes das relações coloniais e suas ramificações no presente. Sua obra torna-se, assim, um ponto de partida para questionamentos profundos sobre a natureza contínua do colonialismo e suas implicações no mundo contemporâneo.
2024