Ensoscrito

2013

De desenho como processo e deriva trata também a experiência de um fim de semana de Hassan Santos na rua, coletando círculos com uma instrução. “você quer fazer um circulo pra mim?” . Onde circulam várias pessoas, Hassan, com um celular, pincel, tinta, uma folha de papel em branco e com a instrução de capturar o vazio, foi durante um fim de semana até as pessoas no centro do Recife, e capturou vários ensos (círculos) desenhados por diversas mãos, idades, e diferentes historias dessas pessoas durante a captura. O enso consiste em desenhar um simples círculo. Para Hassan, na “minimalidade do círculo é onde se encontra também a prova da existência. Um tipo de matéria espiritual, enso é dar-se, é capturar-se. O enso é um cerco.” Em looping, O áudio editado com as gravações de noções sobre o círculo, do artista e das pessoas entrevistadas na rua, distribuí-se no corredor-escadaria de entrada de B³ produzindo um espaço para ouvir, ou seja, entrar no espaço e na temporalidade da deriva. 


Edson Barrus, Bê Cúbico, 2013.

Áudio (5min 08seg)
https://soundcloud.com/hassansantos/ensonoro

"A redução compreende-se então como um processo ascético libertador: A verdadeira liberdade não é, ao contrário do que muita gente pensa, poder ter. A verdadeira liberdade é justamente poder não ter, poder abdicar, poder renunciar, poder prescindir. Essa é que é a verdadeira liberdade, esse é que é o luxo, só alguns o podem ter. Quantos de nós poderemos ter essa liberdade? Quantos de nós nos podemos permitir dar simplesmente um passo ao lado?" (Rui Chafes em O Silêncio de...)

--

17/10/13

Este círculo é a tentativa de capturar o vazio em nós, tudo que existe, o preenche.

A escuridão da linha que o cerca torna ainda mais luminoso esse espaço.

No centro da cidade do Recife, onde circulam várias pessoas, capturaram-se vários ensos (círculos) desenhados por diversas mãos, idades, de diferentes contatos consigo mesmas e meio onde vivem. Com um pincel, tinta e uma folha de papel em branco, o enso consiste em desenhar um simples círculo e este torna-se assim uma matéria gráfica/metafórica, um exame e um diagnóstico do estado de quem o inscreve. Nada é dito pelo enso que o autor não saiba ou não reconheça, mas implica em uma investigação de si, um apuramento. Esta pesquisa vai até as pessoas como uma instrução, nela sugere-se esse exercício de escape individual através da expressão de um círculo. Nele podemos dizer que o autor se encontra e se confunde com seu traço. A simplicidade do traço e sua gestualidade abre caminho para relação do grafismo com o autor, é através da relação sensibilidade-corpo que a marca deixada na superfície não se resume apenas a materialidade física e visual, mas também para um conhecimento suprasensível da realidade diria Kandisky (1866-1944), e nesta conhecemos um pouco da realidade externa e interna dos autores, que em via do auto-conhecimento, somos nós que inscrevemos e refletimo-nos.

Na minimalidade do círculo é onde se encontra também a prova da existência da não perfeição, visto os fatores que confluem além da própria natureza humana, as eternas variantes da disposição das cerdas do pincel, da tinta e da inquietante folha de papel em branco. A prática se propõe ao ser realizada um estado de não-mente e construtor de presença no mundo, livre de divagações sobre o presente e passado, o que é muito pretencioso, porém a consciência disto já é aprazível. A roda enso refere-se também a vida em que todo sujeito cambia e tudo gira em ciclos naturais, as manifestações da natureza, suas estações e marés. A provocação da prática do enso seria também para com a luta entre a conquista de intimidade com a cidade e sua impossibilidade, parafraseando o poeta Alberto Pucheu (1966) que é certivo quando refere-se ao homem vitimizado pelo meio que vive e suas influências, não se dando muitas vezes conta da sua própria natureza.

Outros trabalhos de Hassan Santos

Veja mais sobre Arte interativa + Arte sonora

Conheça outra(o)s artistas